ESPAÇO CULTURAL LIVRE - Conto de Gustavo Samuel
Vazio
Gustavo Samuel
Silêncio. Absolutamente, nenhum ruído. Não há pássaros, carros, pessoas... Só eu e um eterno vazio. Minha boca poderia dar vida a todo esse lugar, poderia emitir um som pioneiro, mas para quê? Nem as batidas do meu coração podem ser ouvidas, penso até que ele parou, é inútil mesmo continuar a bater.
Não há cores, formas ou luz também. Talvez, nem mesmo olhos. Odores e nariz, comida e sabor são em vão. Talvez, nem eu mesma exista.
Não, não! Eu existo. Sei disso porque ainda me lembro daquele desgraçado dia de chuva. Naquele dia, parecia que o sol desistira de brilhar. As grossas e escuras nuvens de chuva dominavam o céu. Todos, inclusive eu, estavam de preto, com expressões tristes e olhos cheios de lágrimas. Algumas dessas pessoas me abraçavam e murmuravam “Eu sinto muito”, outros comentavam baixinho, pensando que eu não ouvia, “Elas foram tão felizes, né? E tudo terminou de maneira tão trágica.”
O Silêncio. Absolutamente nenhum ruído. Nenhuma cor, nenhum cheiro ou sabor. Um dia, nenhuma lembrança também. Assim, não sobrará nada de mim e poderei encontrar uma consoladora paz... quando deixar de existir.
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Um homem de aproximadamente trinta e três anos, entra sem ruídos no quarto do hospital. Era o psiquiatra responsável por aquele sanatório. Ele ajeita os óculos e balança a cabeça negativamente, com ar desanimado. Ele balança a mão direita na frente dos olhos da paciente, tentando chamar sua atenção, mas não obtêm nenhuma resposta. A mulher continuava a observar o nada com seus olhos mortos. Ele balança a cabeça mais uma vez, suspira e vai embora.
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